BemDitasPalavras

5.4.06

Eis que o amor que por vezes anda as turras, noutras vezes se comove com sua existência, se abraça, se sorri. Este mesmo amor que por vezes chora e ameaça e então, depois das palavras apaziguadoras e dos carinhos que sempre começam tímidos e reconciliadores, excita-se. Então o amor convidou e aceitou seu próprio convite para um novo breve tempo, deixando para trás a fumaça dos pensamentos entrecortantes, sem respeito pelo que nos é humano e estressante, para dar uma "fugidinha" até a cidade de São Lourenço. São Lourenço... Por mais que o engarrafamento, freqüentador de todas as sextas-feiras estivesse cumprindo seu pontualíssimo papel na estrada que nos levaria ao distanciamento das ebulições constantes do dia-a-dia, o silêncio dentro do ônibus já nos anunciava horas melhores. Mãos nas mãos, inspiração na expiração, lábio no lábio, assim os primeiros acordes de um final de semana em melodia começou a surgir. Percebe-se ao subir a serra que o encantamento pelo novo já começa a virar atmosfera - uma delícia! Não conhecia São Lourenço e, não cometerei aqui uma blasfêmia ao dizer que preferia não ter conhecido, porque assim como o amor, a vida é para ser sofrida e, entenda-se sofrer como degustar, sorver. Sendo assim, não posso deixar palavras fluirem por aí a dizer de algum descontentamento pelo que aconteceu desde a chegada à cidade do Parque das Águas. A sensação inebriante contida na troca de carinhos e amores também não se faz necessária nesse momento. São Lourenço é o que importa. Que cidade mágica! Também não é essencial mencionar as belezas físicas... Não! Não estou me referindo à minha cônjuge (ao preencher a ficha do hotel, assim denominei o amor que me acompanhava na bela forma de uma morena mulher). Não preciso ficar aqui descrevendo o que qualquer olho facial pode ou poderá observar. Quero me ater ao lúdico de estar numa cidade como São Lourenço. Que atmosfera! Parece que fui conduzido por pura magia a um filme de amor da Metro ou da Universal. Todas as palavras, todos os gestos pareciam dublados ou interpretados por atores de cinema. Como em todo romance hollyudiano nem todos os momentos foram permeados com flores. Houve palavras e situações de doce romance, assim como farpas atiradas para todos os lados. Mas nada que diversos finais felizes não puderam acalentar. Sem falar que o erotismo também produzia seus momentos em profusão desenfreada. Entretanto, não sei em que horário você acessará meu blog...não posso me descuidar e te fazer ler palavras perigosas em horários impróprios. São Lourenço... Cada paisagem que acompanhava nossos olhares, nossos toque e nossos beijos ajudava a colorir o fascínio de cada momento - fosse mesmo um filme, o Diretor de Fotografia não tardaria a ser laureado com uma estatueta qualquer. Sua manhã era soberba em sua simplicidade. Pessoas se cumprimentando entre os olhares que sempre pareciam felizes. Até a tristeza em São Lourenço parece feliz. O tempo ajudou. Não fazia Sol e nem chovia. A manhã transcendeu imitando o mais belo dos crepúsculos. Por essa manhã caminhamos pelas ruas de São Lourenço, buscando entender porque a felicidade tinha aquele aroma. A felicidade que penetrava a alma através das diversas sensações de carinho desprendido e, que penetrava nossos corpos através de nossas narinas satisfeitas e de nossos olhares quase atônitos. São Lourenço...
A fina chuva que caiu após um almoço bem servido - não, não extravazamos na comida; fomos atendidos por Eli. Eli, um senhor de mais ou menos uns setenta anos vividos, e outros cento e quarenta a nós estendidos em atenção, educação, simpatia e cordialidade - éramos celebridades naquele lugar, assim como todos os que ali estavam, ou não - transformou-se num dos principais encantos daquela tarde que se iniciava.
Contudo, a chuva fina que caiu anunciando o aconchegante entardecer cumpriu o seu papel. Os lábios continuavam a se tocar em momentos de incontroláveis desejos. As mãos entenderam o que a atmosfera pedia e cederam seu lugar aos braços. Os corpos agora se buscavam e se curtiam. A cidade transformava-se e nos nos mostrava suas belas faces. São Lourenço...
A tarde foi do mais puro amor, melhor, a tarde foi o próprio amor. Não vivíamos embalsamados por sentimento algum, vivíamos em solução homogênea com o próprio bálsamo. Não o tínhamos, éramos parte. Tudo porque aquele lugar enfeitiça os desavisados. A paz estava em todos os momentos. Para que se possa entender a estranheza de todo emaranhado de magia, basta saber que uma tarde dessas que normalmente, por ser um momento raro e especial, voa, passa rápido para aqueles que vivem o momento, para nós pareceu levar uma eternidade. Talvez essa sensação exista pela insistência da vida em se fazer sentir a cada segundo, de cada minuto, de cada hora daquela eterna tarde de Sábado.
A tarde se foi não antes de nos fazer sentir a aproximação da bela noite que se anhinhava em nossas sensações, nos poros de nossas almas - não foi um final de semana para os corpos, mas para as almas. Terá sido mesmo? Ora, prometi não narrar os presentes dados aos corpos - nossa! Almas... talvez todo esse suntuoso clima de simplicidade seja fruto da presença das diversas almas simples, nativas de São Lourenço, que colorem de vida e alegria a vida daquela deliciosa cidade. Foi um final de semana "qualquer", baixa temporada, preços módicos e tudo o mais. Não havia motivos para tanta gente, tanta alegria. A cidade que vive de seus dotes turísticos parecia dividir com seus oriundis a arefa de encantar aqueles que abraçavam a sorte de terem escolhido São Lourenço para um final de semana diferente. Se nossas retinas procuravam o fervilhar de pessoas e os ouvidos os sons de música e murmurinhos de multidões, podíamos encontrar facilmente. Bastava olhar para um lado, ou para o outro e...pronto! Lá estava a festa ou boite a espera de nossa astúcia. Todavia, quando buscamos a paz de um recanto para uma taça de vinho e pedaços de provolonescom pimenta...puft! O beliscar e o deglutir já se faziam involuntários. Não se pode esquecer da simpática menina que nos atendia enquanto contava orgulhosa a história de sua bela cidade. São Lourenço...
Pois é, a noite chegou e se manteve até que nossas retinas se puseram diante das janelas de nosso quarto de hotel. A vida estava toda em festa. A própria festa sentia-se homenageada e, por isso sentia-se também em festa. Uma festa por dentro de uma outra, que estava por dentro de uma outra, de uma outra, de uma...outr...d...uma... E assim nos deitamos vestindo apenas nossos sonhos. Quase não dormimos, mas acordamos como se tivéssemos acabado de visitar o mais belo dos céus. Assim, vestindo nossos sonhos e despejando toda nossa energia, ficamos deitados até o tempo suficiente para encarar a mais triste de nossas rodoviárias. São Lourenço...
São Lourenço. Se você está aí, diante de minhas singelas e quase particulares letras transbordadas, jamais se esqueça do que acabou de ler. Esta cidade precisa de receita médica, de prevenção para aqueles que a desejam visitar. Para chegar, conviver e viver momentos em São Lourenço é preciso acompanhamento médico sim! Sabem por quê? Porque a hora de ir embora sempre chega. É duro demais, triste quase demais. Não deveria ser permitido sair de São Lourenço. Como numa fábula, de alguma forma aquele que sonha nesta cidade deveria ser amaldiçoado a nela viver pelo resto de sua vida. Se você não é forte o suficiente para ser o mais feliz que um ser humano pode ser e depois deparar-se com seu computador no escritório.. . então para você São Lourenço é uma cidade proíbida.