

A fina chuva que caiu após um almoço bem servido - não, não extravazamos na comida; fomos atendidos por Eli. Eli, um senhor de mais ou menos uns setenta anos vividos, e outros cento e quarenta a nós estendidos em atenção, educação, simpatia e cordialidade - éramos celebridades naquele lugar, assim como todos os que ali estavam, ou não - transformou-se num dos principais encantos daquela tarde que se iniciava.
Contudo, a chuva fina que caiu anunciando o aconchegante entardecer cumpriu o seu papel. Os lábios continuavam a se tocar em momentos de incontroláveis desejos. As mãos entenderam o que a atmosfera pedia e cederam seu lugar aos braços. Os corpos agora se buscavam e se curtiam. A cidade transformava-se e nos nos mostrava suas belas faces. São Lourenço...
A tarde foi do mais puro amor, melhor, a tarde foi o próprio amor. Não vivíamos embalsamados por sentimento algum, vivíamos em solução homogênea com o próprio bálsamo. Não o tínhamos, éramos parte. Tudo porque aquele lugar enfeitiça os desavisados. A paz estava em todos os momentos. Para que se possa entender a estranheza de todo emaranhado de magia, basta saber que uma tarde dessas que normalmente, por ser um momento raro e especial, voa, passa rápido para aqueles que vivem o momento, para nós pareceu levar uma eternidade. Talvez essa sensação exista pela insistência da vida em se fazer sentir a cada segundo, de cada minuto, de cada hora daquela eterna tarde de Sábado.
A tarde se foi não antes de nos fazer sentir a aproximação da bela noite que se anhinhava em nossas sensações, nos poros de nossas almas - não foi um final de semana para os corpos, mas para as almas. Terá sido mesmo? Ora, prometi não narrar os presentes dados aos corpos - nossa! Almas... talvez todo esse suntuoso clima de simplicidade seja fruto da presença das diversas almas simples, nativas de São Lourenço, que colorem de vida e alegria a vida daquela deliciosa cidade. Foi um final de semana "qualquer", baixa temporada, preços módicos e tudo o mais. Não havia motivos para tanta gente, tanta alegria. A cidade que vive de seus dotes turísticos parecia dividir com seus oriundis a arefa de encantar aqueles que abraçavam a sorte de terem escolhido São Lourenço para um final de semana diferente. Se nossas retinas procuravam o fervilhar de pessoas e os ouvidos os sons de música e murmurinhos de multidões, podíamos encontrar facilmente. Bastava olhar para um lado, ou para o outro e...pronto! Lá estava a festa ou boite a espera de nossa astúcia. Todavia, quando buscamos a paz de um recanto para uma taça de vinho e pedaços de provolonescom pimenta...puft! O beliscar e o deglutir já se faziam involuntários. Não se pode esquecer da simpática menina que nos atendia enquanto contava orgulhosa a história de sua bela cidade. São Lourenço...
Pois é, a noite chegou e se manteve até que nossas retinas se puseram diante das janelas de nosso quarto de hotel. A vida estava toda em festa. A própria festa sentia-se homenageada e, por isso sentia-se também em festa. Uma festa por dentro de uma outra, que estava por dentro de uma outra, de uma outra, de uma...outr...d...uma... E assim nos deitamos vestindo apenas nossos sonhos. Quase não dormimos, mas acordamos como se tivéssemos acabado de visitar o mais belo dos céus. Assim, vestindo nossos sonhos e despejando toda nossa energia, ficamos deitados até o tempo suficiente para encarar a mais triste de nossas rodoviárias. São Lourenço...
São Lourenço. Se você está aí, diante de minhas singelas e quase particulares letras transbordadas, jamais se esqueça do que acabou de ler. Esta cidade precisa de receita médica, de prevenção para aqueles que a desejam visitar. Para chegar, conviver e viver momentos em São Lourenço é preciso acompanhamento médico sim! Sabem por quê? Porque a hora de ir embora sempre chega. É duro demais, triste quase demais. Não deveria ser permitido sair de São Lourenço. Como numa fábula, de alguma forma aquele que sonha nesta cidade deveria ser amaldiçoado a nela viver pelo resto de sua vida. Se você não é forte o suficiente para ser o mais feliz que um ser humano pode ser e depois deparar-se com seu computador no escritório.. . então para você São Lourenço é uma cidade proíbida.
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